segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O remorso de baltazar serapião


O homem animalesco, sem comando sobre a sua natureza, sem força de vontade, sem chispa de moral, o homem hobbesiano, só egoísmo, só desejo, só bestialidade, só agressividade, só medo, só superstição, personificação simultânea da maldade e da cobardia nunca existiu - leiam-se os antropólogos, estude-se História, visite-se o mundo. Não pode ser, pois, o retracto do servo medieval nem, muito menos, da sociedade portuguesa da época. Baltasar Serapião nunca existiu – a não ser no sentido que Gustave Flaubert deu à sua famosa frase “Emma Bovary c´est moi”.

O livro é uma longa descrição acéfala, acrílica e misógina, escrita na primeira pessoa, de crueldades recebidas e infligidas, de deboche, de bestialismo, de superstição, de traição e de assassínio. Sem uma reflexão, sem um contexto, sem nada ... porque simplesmente o mundo é/era supostamente assim.

Que qualifica este livro para Prémio Literário? O facto de omitir a letra grande? Depois de tanto e tão interessante experimentalismo com o grafismo e a com a gramática na Literatura essa seria diminuta razão. O facto de não haver melhor?

Por vezes ao atribuir um prémio a obra menor ou sem valor arruina-se o próprio galardão e desprestigiam-se os jurados que o decidiram. É, infelizmente, o caso. valter hugo mãe não o merecia.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Jesusalém

Um dia Deus nos virá pedir desculpa
(página 23)

Um livro surpreendente, pleno de expressões e situações fantásticas, a raiar o delírio.

Uma primeira parte deliciosa misteriosa, filosófica, que nos faz reflectir e imaginar. Uma segunda parte, com o regresso da família Vitalício à cidade / mundo ressuscitado e com o desenlace da trama, demasiado prosaica e banal, que de algum modo desbalanceia o livro e lhe retira algum do muito lustro obtido na fase da história passada em Jesusalém.

Deveras surpreendentes são cenas como a “cerimónia do desbaptismo” ou as disputas que se traduzem em “dois dedos de desconversa”, ou as que conduzem a “uma desilusão óptica” deliciosas as frases como “Não gosto de antiguar os tempos” ou “Lá anda Zacaria com nas suas maluquinações” ou ainda “No resto, vamos vagalumeando”e “Vá lá ver o que não se passa” profundas as observações “Esperas. É isso que a estrada traz. E são as esperas que fazem envelhecer”, “E todo o bom pai enfrenta a mesma tentação: guardar para si os filhos, fora do mundo, longe do tempo”.

Excelente livro. Foi opinião unânime.

sábado, 17 de julho de 2010

Amar de Novo


Amar de Novo de Doris Lessing

Doris Lessing, Prémio Nobel da Literatura em 2007, escritora inglesa nascida no Irão, criada no Zimbabué e casada em segundas núpcias com o advogado judeu alemão Gottfried Lessing.

O marido, prosseguido pelo nazismo tinha-se refugiado na Inglaterra primeiro e na Rodésia depois, onde veio a conhecer e a casar com Doris. Gottfried aderiu ao comunismo, tendo sido membro do Partido Comunista da Rodésia e do da Grã-Bretanha no seguimento da mudança do casal para Londres. Depois da II Guerra e de se separar de Doris retornou à Alemanha, tendo-se tornado embaixador da RDA (Republica Democrática Alemã) em vários países, nomeadamente no Uganda onde viria a ser assassinado em 1979.


quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ontem...

O livro do mês de Abril, Comboio Nocturno para Lisboa de Pascal Mercier resultou em duas sessões de conversas diversificadas. Na primeira tivemos uma sessão de história de Portugal e alguns testemunhos do período turbulento pós Estado Novo, bem como uma verdadeira lição sobre como funciona o sistema jurídico em Portugal, isto a propósito de um erro encontrado no livro.

Na segunda sessão, a conversa fugiu do livro e rumou caminho para uma discussão do que é um bom livro, tem mesmo de ser factualmente correcto, o ter demasiadas frases feitas pode estragar o romance? De que é feito um bom romance?

Algumas questões ficaram ainda por esclarecer em relação a este livro, pode ser que voltemos a ele numa próxima sessão.

Para Maio temos um título sugestivo, Um bom homem é difícil de encontrar de Flannery O’Connor. O livro já está disponível no balcão de acolhimento da biblioteca de Algés. Tal como já aconteceu este mês, as sessões realizam-se na sala ao lado da galeria, no piso inferior da biblioteca.

Boas leituras!

domingo, 14 de março de 2010

Alda Graça Espírito Santo


Coqueiros e palmares da Terra Natal

Mar azul das ilhas perdidas na conjuntura dos séculos

Vegetação densa no horizonte imenso dos nossos sonhos.

Verdura, oceano, calor tropical

Gritando a sede imensa do salgado mar

No deserto paradoxal das praias humanas

Sedentas de espaço e de vida

Nos cantos amargos do ossobô

Anunciando o cair das chuvas

Varrendo de rijo a terra calcinada

saturada do calor ardente

Mas faminta de irradiação humana

Ilhas paradoxais do Sul do Sará

Os desertos humanos clamam

Na floresta virgem

Dos teus destinos sem planuras


A poetisa Alda Graça Espírito Santo foi fundadora do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe. Foi membro do governo de transição para a independência e depois ministra da Educação, ministra da Cultura e Presidente da Assembleia Nacional Popular. Uma grande figura da cultura africana de expressão portuguesa. Morreu aos 83 anos, no passado dia 9 de Março de 2010.


terça-feira, 9 de março de 2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

Amanhã,

à hora do costume, lá estaremos nós, com café e bolinhos.

Boas leituras!